Nos primeiros meses de 2025, o ambiente empresarial brasileiro apresentou um dado que chamou atenção: a criação de Sociedades Anônimas (S.A.) caiu 2,8% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Boletim do Mapa de Empresas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Embora o número de novos negócios continue em alta, esse recuo específico indica uma mudança de comportamento importante entre empresários e investidores.
O Brasil registrou quase 1,2 milhão de novos CNPJs apenas no primeiro quadrimestre de 2025, impulsionado pelo crescimento das micro e pequenas empresas, além das sociedades limitadas unipessoais (SLU) – introduzida pela Lei da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019).
Esse cenário revela uma preferência crescente por estruturas societárias mais simples e menos onerosas, que exigem menos formalidades e oferecem maior flexibilidade na gestão.
Enquanto isso, as sociedades anônimas, tradicionalmente vistas como símbolo de robustez empresarial, vêm perdendo espaço por fatores como custo de manutenção, burocracia regulatória e exigências de governança corporativa.
Há algumas razões que explicam o movimento de retração:
- Custos e formalidades: a constituição de uma S.A. ainda envolve despesas maiores com auditorias, publicações obrigatórias e governança. Para muitos negócios, especialmente de médio porte, esses encargos superam os benefícios.
- Alternativas mais acessíveis: com a consolidação da Sociedade Limitada Unipessoal (SLU), empresários podem operar com segurança jurídica semelhante, mas sem a necessidade de múltiplos sócios ou capital elevado.
- Digitalização dos negócios: novos empreendimentos digitais e startups preferem estruturas mais ágeis, como limitadas ou sociedades simples, que se adaptam melhor a modelos escaláveis e investimentos sucessivos.
- Ambiente econômico e tributário incerto: com a transição da reforma tributária e discussões sobre carga fiscal, muitos investidores têm optado por esperar antes de constituir novas S.A.
Para o mercado, a queda na criação de S.A.s não necessariamente indica retração empresarial — pelo contrário, o empreendedorismo no Brasil segue em alta, mas com foco em modelos mais enxutos e adaptáveis. Ainda assim, o dado merece atenção porque as S.A.s são fundamentais para o desenvolvimento de mercados de capitais, atração de investimentos e governança corporativa sólida.
Se essa tendência persistir, o país pode enfrentar um descompasso entre o crescimento do número de empresas e o amadurecimento institucional do ambiente corporativo.
As sociedades anônimas são, em grande parte, as responsáveis por profissionalizar a gestão e aumentar a transparência nas relações empresariais, pontos essenciais para atrair capital estrangeiro e consolidar empresas em patamares mais elevados.
Mas o momento exige reflexão: estamos simplificando demais em detrimento da estrutura empresarial de longo prazo?
A popularização de formatos como a SLU e as limitadas é positiva para dinamizar a economia, mas o fortalecimento das S.A.s continua sendo estratégico para o desenvolvimento sustentável do ambiente de negócios brasileiro.
Assim, a escolha do tipo societário não deve ser apenas uma decisão formal, mas estratégica. Uma consultoria jurídica especializada pode ajudar o empresário a:
- Avaliar riscos e benefícios de cada modelo;
- Estruturar contratos societários com cláusulas de proteção e sucessão;
- Implementar práticas de governança sob medida;
- Planejar a entrada de investidores com segurança jurídica;
- Adaptar a empresa às exigências regulatórias e fiscais.
Em um cenário de incerteza econômica e exigências crescentes de transparência, empresários e investidores precisam ponderar não apenas custos e simplicidade, mas também governança, sucessão e atração de capital.
Buscar orientação jurídica qualificada torna-se, portanto, um passo preventivo e inteligente, que permite estruturar negócios com segurança, antecipar riscos e adaptar-se às transformações regulatórias e tributárias que moldam o ambiente empresarial brasileiro.
No fim das contas, o desafio, e também a oportunidade, está em equilibrar agilidade e solidez: adotar estruturas societárias modernas sem abrir mão da governança que sustenta empresas duradouras e competitivas.
Outubro de 2025
Lorena Gomes



